terça-feira, 22 de junho de 2010

Sobre o amigo

Adolescentes parecem não ter medo de nada. Não tem medo da velocidade, guiam carros e motos como loucos, na certeza de que são invulneráveis. Não tem medo das drogas, experimentam de tudo, na firme certeza de que nenhum mal poderá lhes suceder. Não tem medo de sexo, e vão gozando dos seus prazeres descuidados que muitas vezes terminam em gravidez que arrasam a vida e em Aids. Parece, inclusive, que não tem medo de morrer. Loucões.
Mas adolescentes tem um medo medonho da solidão. Não conseguem ficar sozinhos, com eles mesmos. A solidão os deprime. Por isso não desgrudam do telefone. Por isso estão sempre em grupos. Mas essa sociabilidade de que é feito o grupo é o oposto da amizade. Porque ela é feita de igualdades. Todos tem de ser iguais. Quem é diferente está fora, não pertence. Não é convidado. Fica em casa;
Amizade é o oposto. Ela começa quando a gente não pertence a grupo algum. A amizade é encontro de duas solidões. Duas solidões, juntas, fazem uma comunhão. (...)
Sei que temos tristezas. É para espantar a tristeza que nos fazemos tanta festa, ouvimos musicas tão alto, procuramos sempre o agito. É preciso espantar o medo de ficar adulto. Ficar adulto é se encontrar com a solidão, quando não mais se pode gritar: "Mãe, me pega no colo!", "Pai, me tira do buraco!". Ai se entende que tristeza é parte da vida, e não é para ser curada com remédios de psiquiatras. Tristeza é para agente ficar amigo dela. Quem faz amizade com a tristeza fica bonito, fica manso, fala baixo, escuta, pensa. (...)
Amigos são raríssimos. ("Eu quero ter uma milhão de amigos": o Roberto Carlos estava louco quando escreveu isso. Amizade requer tempo. Como posso ter tempo para um milhão? Deveria re-escrever a canção: "Quero ter um milhão de fãs") Não importa. Basta um amigo para encher a solidão de alegria.

;;;

Um comentário:

Unknown disse...

Legal o texto :), continue postando.